sábado, maio 31, 2008

Drunk Dream – A David Lynch kind of thing ou O meu sonho dava uma curta-metragem

Encontrava-me no bar de um auditório, pareceu-me completamente fictício, embora conseguisse identificar alguns traços que me fazem lembrar o café da Aula Magna. Tinha acabado de tomar o meu café e dirigia-me para a saída pois já estava atrasado para a pequena palestra para a qual tinha sido convidado a intervir, anterior à sessão de duas peças de teatro que iam ser apresentadas nessa tarde. À saída do bar cruzei-me com ela, mas só tive tempo de dizer – Olá, já falamos, estou super atrasado...-.

Não houve qualquer registo sobre o que disse na palestra, apenas me lembro de sair do palco e de me dirigir para as escadas laterais do auditório. Este não era simétrico, do lado esquerdo tinha escadas e do lado direito uma fila de assentos, ao centro a configuração “normal”. Sentei-me a meio da escadaria e aguardei pelo ínicio da primeira peça. Ela entrou no auditório no lado oposto e sentou-se na fila de assentos do lado direito, estava super elegante com um casaco de cabedal castanho com cinto e óculos escuros a prender o cabelo que me pareciam ser uns Ray-Ban Wayferer. Notamos a presença um do outro e acenamos para a registar. As luzes esmoreceram como indicando o ínicio da peça, mas nada aconteceu. Passados uns momentos voltaram a acender. Ela levantou-se e foi até à primeira fila, falou brevemente ao ouvido de um índividuo, ele fez um movimento de concordância com a cabeça.

De seguida, voltou-se para o auditório e dirigiu-se à plateia que já estava composta, dizendo para toda gente sair e só voltarem às 18:01 e frisou bem o minuto. Algumas pessoas abandonam a sala, mas outras mais desconfiadas ficam quietas. Uma fila que já estava preenchida ficou completamente imóvel. Ela foi até lá e berrou- Não ouviram o que eu disse?!! Vá vá, vamos embora...!! – Eu que até estava a achar a cena divertida, achei que também devia sair após tal exibição de assertividade. Levantei-me, mas prontamente ela apontou para mim e disse – Não, tu ficas!- , obedeci. Ficaram apenas três pessoas, eu, ela e o índividuo com quem ela tinha falado anteriormente. Observei com mais atenção o homem e reparei que era o Woody Allen, ele e ela começaram então num diálogo que me parecia muito familiar, tinha a sensação de já o ter visto ou ouvido antes, os pormenores não me lembro mas andava à volta da impossibilidade do amor. Adorei cada momento e pensei – Que extraordinária surpresa – mesmo sem estar convicto de que se tratava de uma encenação dedicada à minha pessoa. Durante toda a cena, ela andava de um lado para o outro muito expressiva nas suas falas, enquanto o Woody permanecia sentado e sereno. A actuação acaba, o Woody vira-se para frente e fica a olhar para o palco vazio, ela sobe alguns lanços de escadas, olha para mim e grita – Agora vou ser uma pessoa normal!! – Entretanto são 18:01 e começam a entrar pessoas na sala outra vez, fico distraído com o movimento e quando volto a olhar para o outro lado ela já se encontrava sentada mas com outras roupas mais discretas, indiferente à população que reentrava.

Tencionava ir agradecer-lhe, muito embora ainda não estivesse convencido se tal surpresa me teria sido dedicada. No entanto a segunda peça teve ínicio e fiquei quieto. A peça era muito estranha, o cenário consistia numa cama inclinada na direcçção dos espectadores, com uma figura não identificável deitada e agarrada a um animal doméstico também não identificado. Não havia actores, apenas uma voz-off palrava. Era muito aborrecida, e pelos vistos ela também achou pois levantou-se e saiu, eu aproveitei e saí também pois queria agradecer-lhe, assim que abro a porta ela aparece mas na forma de um rapaz, era ela mas era um rapaz, não sei explicar melhor. Parecia apressada, esticou a mão disse-me – Obrigado – eu cumprimentei-a e balbuciei – Nã..o.. eu ... eu é que agradeço, foi espantoso, nunca mais vou esquecer aqueles momentos à pouco – Ela virou as costas e saiu a correr...