terça-feira, fevereiro 07, 2006

Amorti - Quando os ídolos não correspondem às expectativas do fanatismo adolescente

Nunca me ouvirão dizer que não gostei de um filme do Woody Allen( e por filme de, entende-se os escritos e realizados por, não os que apenas entra como actor, onde já teve umas participações muito infelizes). É a prerrogativa do fanatismo, a imunidade perante uma análise objectiva. Mas( e cá vai mais um pedaço da lavagem cerebral a que tenho sido sujeito no novo curso), há um incómodo trade-off nesta questão do fanatismo, que reside no facto de a expectativa em relação ao mais recente trabalho variar directamente com o grau de obsessão. Extrapolando, dir-se-ia que aqui jaz também a fatalidade a que algumas relações estão condenadas, porque de uma forma geral(?) quanto mais apaixonadíssimo se está, maiores são as expectativas em relação ao presente mais-que-tudo. E há poucas que sobrevivem a esta crueldade. Mais cedo ou mais tarde o carrasco rotina dá conta do fado.

Tivesse eu vivido isolado do acervo Allen e muito provavelmente teria achado o Match Point maravilhoso. A história flui, as interpretações são flawless, tem intensidade dramática, um background filosófico, diálogos interessantes, uma lógica assustadoramente humana, enfim... aparentemente estão reunidas as condições mínimas para sair da sala super entusiasmado. Mas não,..., e por aqui me fico por respeito ao meu fanatismo júnior.

Realçar apenas o coeur d´essence do filme que pode ser sumarizado na frase "People are afraid to face how great a part of life is dependent on luck." Há falta de mais entusiasta reacção, Match Point fez-me querer rever rapidamente pela n-ésima vez o Sliding Doors, que aconselho, a si, querido e adorado leitor deste baú chic.

1 comentário:

Sónia Balacó disse...

Mas hás-de convir que tendo em conta os últimos filmes que ele fez, este até está bom. Até se vê e tudo!=p Mas tens toda a razão em relação à questão das expectativas. Eu, como ia a pensar que seria uma bela porcaria, saí de lá feliz. Em contrapartida quando fui ver o Lost In Tranlation ia com expectativas tão altas que acabei por achar que o filme ficou aquém do que eu imaginara. O problema é a nossa cabeça. Somos os nossos maiores inimigos! ;)