quinta-feira, setembro 24, 2009

Call me picky

Recebo um convite para um evento no Facebook intitulado "EU VOU VOTAR NO DIA 27 de SETEMBRO. E TU?". E pensei - Queres ver que é desta que aceito uma sugestão deste rapaz? -uma vez que já repetidas vezes ignorei e recusei pedidos com o intuito de emprestar o meu nome para demandas em defesa da "arte" da tauromaquia.


Mas este evento tinha bom aspecto. Eu vou votar, aprecio o facto de poder votar e alegra-me o facto de haver militância desinteressada pelo apelo ao voto. No entanto, sabendo que este rapaz é muito activo na jotinha laranja, resolvi ler com cuidado a dita página, em particular porque me lembrei de um vídeo produzido por um grupo colorido qualquer da escolinha de verão da jotinha que confundia apelo ao voto com militância partidária, vídeo espetacular por diversas razões que se tiver paciência explicarei mais tarde.

Surpresa, nada de mensagens partidárias subliminares. Vídeos do CNE, link para um site de recenseamento. Limpinho. A única evidência de dominância partidária está na lista de participantes, que apresenta um anormal nível de miúdas giras com apelidos exóticos. E toda gente sabe que a jotinha laranja é a que tem as miúdas mais giras. Facto meta-científico que explicarei, se me pedirem com muita, muita insistência.

Então, porque é que mais uma vez ignorei um evento sugerido por aquele rapaz?

Porque li a descrição. Onde se pode ler "Mais do que um dever, votar é um direito cívico".

Morreu na praia este evento quando já dirigia o ponteiro do rato para aceitar. Votar, não é dever porra alguma. E se por algum trágico cataclismo histórico, votar fosse efectivamente um dever, a ordem qualitativa nunca deveria ser o dever de votar à frente do direito de votar. Tou fartinho deste tipo de arrogância passiva ou ignorância activa que não contempla o conceito civilizacional fora de uma estrutura democrática. Não só é ignorante no que diz respeito à diversidade civilizacional, como dentro do contexto de uma democracia é desrespeitoso para o direito ao não-voto. Não votar pode ser a afirmação de uma postura circunstancial ou não de uma visão democraticamente válida, como seja por exemplo: o "este modelo democrático está falido, venha outro"; o "Estou-me a cagar", as pessoas têm o direito de se estarem a cagar; o "fui passar o fim-de-semana a Saint-Tropez, não dá jeito"; etc.

Curiosamente, este tipo de abordagem é o que eu qualifico efectivamente de asfixia democrática(em contra-ponto com o que parece ser um tema de campanha). A minha democracia não está sujeita a este tipo de pressões psicológicas, eu escolho votar, não cumpro um dever imaginado por gente que na sua militância pelo voto desvirtua o próprio acto que defende.

Nota: No panorama político nacional, as meninas da jotinha laranja são as mais bonitas, prémio de grupo. Individualmente, a Joana Amaral Dias continua a ser líder incontestável.



5 comentários:

Cheguevara disse...

Tas em forma, muito bom...

maria. disse...

não me venho pronunciar sobre se o direito ao voto é ou não um dever cívico. Em alguns pontos podemos estar de acordo; noutros nem por isso.
Em nome das meninas da esquerda (nas quais me incluo) venho deixar ficar um pedido feito com muita, mas muita insistência para que seja explicado, por quem o afirma, esse "facto meta-científico" das meninas da jotinha laranja serem as mais bonitas.

DK disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
DK disse...

obrigado por me dares esperanca pat. nao que nao soubesse do teu caso em particular mas as vezes dá me a ideia que basicamente tá tudo fodido da cabeca.

a verdade técnica exposta com lógica - temperada com bom senso.

nao a reconhecer é sinal de ingénua névoa partidária tao típica dos jotinhas ou aberrante troca das maos pelos pés de quem se habitua a assimilar em seco os paroquiais proverbiozinhos da classe política.

nao há muito mais a dizer. escreve mais e deixa-te de tenistas.

KidCabide disse...

Concordo com tudo o que escreveste, e aquelas linhas do início sobre votar etc tb.