sábado, novembro 19, 2005

De Patinho Feio a Patinho Bravo ou a Febre da Poupée Russe Kelly Reilly




Andava eu na expectativa para ir ver a sequela do "L´Auberge Espagnole" e os comentários mais frequentes e coloridos que ouvia sobre o filme eram coisas do estilo" Epahh... tens de ir ver, lembras-te daquela miúda pequena que ninguém dava nada por ela?? Epahh.. a bifa... Não imaginas, tá boa todos os dias... Eu #%%&#"#..." Enfim, confesso que foi um aditivo à minha natural expectativa tendo sido um apreciador moderado daquela melting pot vertiginosa muito européenne que foi o original de Klapsich.

Lá fui ver o "Les Poupées Russes" que não esteve de todo à altura das minhas modestas expectativas. Além de não partilhar desta excitação à volta da Kelly Reily, que toda gente vê que está mais "crescidinha" mas nem por isso mais interessante, parece-me que o Cédric usa e abusa e violenta o espectador com sequências completamente esquizofrénicas de fragmentação de imagem e de vertigens, que não são mais do que viagens que me provocaram aquilo que as vertigens sem piada causam , náusea. Klapsich tenta arranjar um alibi para recorrer ao cliché denunciando ele próprio alguns por demais evidentes. A corrupção moral do indíviduo que não é capaz de resitir à carne(e que carne a de Lucy Gordon...) que atempadamente se redime perante a evidência de que foi um idiota ao ceder à lúxuria; a atitude passive-agressive da Kelly Reily apercebendo-se da sua condição de Pato Bravo com reminiscências de Patinho Feio, condenada, pobrezinha, a viver paixões auto-destrutivas; a caracterização da sociedade Russa, com os "originais" da bailarina do Marinsky a dançar o Lago dos Cisnes, vivendo em quase miséria numa casa comunitária; e em particular o seu alibi, a telenovela que o herói é "obrigado" a produzir contra-intuitivamente, um atarantado Romain Duris sucumbindo às tenebrosas regras da economia de mercado, um enredo de consumo fácil, ultra romantizado na prevísivel Veneza...

Nesta Europa em convulsão, talvez o estereótipo que Klapsich montou não esteja tão longe da realidade. Ainda assim, fica a impressão de uma manifesta vontade de inovar a qualquer custo, sendo que o resultado foi obtido sacrificando a coerência, a objectividade, a harmonia e a honestidade intelectual.

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